segunda-feira, 28 de março de 2016

Recomeços

Sobre o quase desespero, sim, quase, porque não chega a sê-lo de fato, é o que quero refletir.
Como chegamos a ele. Como não percebemos seus tentáculos nos envolvendo. Como não percebemos sua sombra se projetando sobre o nosso sol.
Não sei, se soubesse, não estaria refletindo, pondo dúvidas sobre minhas conclusões.
A verdade é que em uma manhã ou noite, geralmente nas noites, pois é para nos tirar o sono mesmo, nos pegamos quase desistindo, nos desesperançando, boicotando nossa capacidade de olhar para os outros lados.
E isso é muito rápido. Ontem mesmo estávamos felizes, contentes, alegres, preparados para ganhar maiores espaços na vida; sonhando outras tantas realizações. Certos de que era uma questão de tempo para que tudo desse mais do que certo e aí....nos encontramos exauridos, desistentes, sem perspectivas.
Nada caminha, não vemos mais horizontes, o nosso infinito já é finito.
Os planos e projetos são fracos, não valem mais a pena lutar por consegui-los. É tudo muito dificil e as horas se arrastam.
A ansiedade, então, vai subindo, vai tomando corpo, criando pernas e vozes e, estas, vão dizendo inverdades, obstaculando.
Isso tudo de uma hora para outra, da noite para o dia. E aí, volta a pergunta: como isso aconteceu e nem nos apercebemos...
Bem, quase desesperados, relutando diante de coisas que já dávamos como certas, é preciso parar para ouvir o que diz o coração.
Sim, o nosso coração ou a nossa consciência ou a nossa experiência ou a nossa intuição. São tantos os nomes que designam o mesmo poder mas, não importa como é conhecido, a questão é o seu resultado.
De novo, é como um despertar. O nosso coração de repente diz que algo está errado, que os nossos pensamentos anteriores ao quase desespero é o que devemos seguir.
O esperto e sensível coração aciona uma sirene: ei! volte tudo. Pare, pelo menos, e, perceba que algo tem que ser feito antes que o quase vire fato.
Atravesse a rua. Olhe o outro lado. Feche uma janela e abra outra. Não veja apenas o lado esquerdo ou o direito o tempo todo. Mude seu foco. Perceba que não está respirando e comece a fazê-lo.
Desamortecer, é o que precisamos nesse momento. Voltar a ver os outros caminhos, pois eles existem e podem nos mostrar outros atalhos.
É isso então, já que não sabemos como chegamos as vias de fato, então, pelo menos tenhamos olhos novos, enxerguemos o depois, o além das montanhas, realmente existe outros desafios ali.
Dessa forma, é preciso coragem. Coragem para desamarrar as supostas cordas, para tirarmos as vendas.
Dessa forma é necessária uma dose extra de oxigênio para desintoxicar dos medos, das nossas próprias desaventuranças, das nossas idéias estanques.
Sim, de novo e de novo, é preciso voltar e dar um outro primeiro passo. Começar de novo.

Um fazer eterno

Lavamos xícaras, pratos, carros e casas.
Noutro dia tivemos cartas para botar no correio, contas a pagar, levar roupas na costureira.
O jardim, puxa, como foi que esquecemos de ligar para o jardineiro e assim segue o passo: um eterno fazer.
É interessante pensar nisso, olhar a agenda do dia seguinte e em dois minutos, preenche-la. Parece que não acaba nunca. A impressão que dá é que basta pensar um pouco e, estamos lá novamente: fazendo ou planejando coisas.
E o que seria o contrário (inter...). Como reagiríamos se em determinado momento não tivéssemos coisas a fazer, compromissos a cumprir, tarefas para terminar (interrogação)
Um olhar pela janela, esperar o dia passar, passar sem perceber...O que seria de nós (inter..)
Então a vida deve ser isso: um fazer eterno ou melhor dizendo, um fazer constante. Eterno, eterno é só uma forma de falar.
O que importa é que às vezes nos cansamos de tantas tarefinhas. Resmungamos mesmo com o fato de "não parar nunca". Já virou mesmo mantra algumas frases: a gente nunca para ou tudo é sempre tão corrido. Será....
Essa dicotomia como tantas outras da vida nos serve de mola propulsora, de alavanca, de "empurrãozinho" e chega a ser saudável, pois basta para pensarmos que ...e se não fosse assim, como seria (int..)
Dá um certo frio na barriga pensar que talvez algum dia a agenda não seja preenchida; chega a ser perturbador o pensamento de ficar semanas sem compromissos a cumprir. Claro, existem as férias, quando nos libertamos do "ter que" mas, são férias e mesmo nelas, muitas vezes reservamos um tempo para quitar uma conta ou coisa que o valha e que seja sinônimo de compromisso.
A vida! Que ser misterioso.
É tudo tão bem engendrado que custa pensar que poderia ser diferente.
Creio que seja assim mesmo: enquanto há vida, há coisas a fazer. Creio que seja assim: enquanto houver movimento, haverá vida ou o contrário...