segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Fim

Como deve ser quando se tem consciência de que os dias estão chegando ao fim? Que o sol vai se pôr e nunca mais vai sair.
Não consigo imaginar o que passa pela mente de alguém que sabe os seus passos estão tão lentos que, mais cedo ou mais tarde eles pararão.
Entretanto, percebo o que se passa em mim ao"assistir" essa caminhada, dá um certo nó na garganta. Uma certa vontade de que o tempo seja mais generoso e passe mais com mais vagar; que ele seja mais generoso e me dê o seu "tempo".
Percebo que desejo que a "manivela" enferruje e trave, para os passos continuem andando.
Há uma briga interna: hora sou quem sou até aqui e noutra hora, tento ser melhor com o outro, afinal o outono se aproxima cada vez mais.
O tempo, vejo cada vez mais, é tão inexorável com os que estão na "reta final", quanto com quem está "na plateia". Seria absurdo dizer que é até pior para quem assiste? Seria assim uma tomada de consciência tão grande a ponto de sentir as dores alheias? Aquelas que ainda nem chegaram.
Afinal, como saber o que passa quando tudo parece apenas uma brincadeira de mau gosto, do tempo?
Essa tal consciência que é tão dura que chega a doer, pois que inevitável.
Enfim, sigamos, pois assim é o "costurar" da vida, e na minha posição de observadora e ao mesmo tempo atriz coadjuvante, só me resta especular sobre o sentir alheio a respeito do que ser fato, mais dias ou menos dias: a morte.